domingo, 20 de junho de 2010


Ela estava imersa num mar revolto de ciúmes. Ao mesmo tempo em que as coisas pareciam se encaixar sozinhas, ela tentava desencaixá-las. Sabia que podia estar sendo induzida ao erro, guiada por aquela paixão louca que estava incrustada em cada parte dela.

Já tinha desistido da tentativa de deixar pra lá. Agora seus pensamentos apontavam para as últimas ‘coincidências’. Uma mensagem. Uma ligação recusada. Um encontro casual. Explicações que não a convenciam. Ela até tentara acreditar, mas tudo parecia tão mal contado, que faltava alguma coisa. Talvez um olhar mais sincero ou palavras mais firmes. Aquela aparente falta de importância lhe parecia falsa.

Enquanto ela engolia tudo aquilo que tinha vontade de perguntar, em seu interior uma revolução queria expulsar aquelas dúvidas. A cada pergunta reprimida, lhe surgiam mais uma centena. E se parecesse opressora ou ciumenta ao extremo? Ah, foda-se, ele era seu namorado, devia-lhe no mínimo uma postura.
Então perguntou-lhe. Tudo.

Ele explicou com coerência ponto a ponto, outra vez.
Dessa vez para sua surpresa, conseguiu entendê-lo, pois involuntariamente abrira o coração deixando as acusações de lado.

O mar se acalmara. Ela caminhava de novo pela sua praia certa de que não mais submergiria naquele mar de loucura.

sábado, 12 de junho de 2010


É pai...
Você não está aqui. Por quanto tempo não esteve?

Eu posso me lembrar de alguns anos atrás, quando eu ainda era uma garotinha, e procurava seu colo sempre que alguém me abusava. E você sempre perguntava ‘Quem foi?’ então dizia: ‘Oun, fique aqui com papai’. Eu me lembro de quando você me dedicava músicas, que eu odiava, porque você as repetia mil vezes. Hoje, elas são provas de que esse tempo bom existiu.

Onde você está escondido? Você não é essa pessoa rancorosa e melancólica que se mostra hoje. Não pode ser. Você se esconde de você mesmo, e de todos os que tentam te ajudar. Você se afastou até mesmo de mim.
Eu, que sempre te tive como um exemplo, que aprendi a ser sincera com você. E agora te vejo mentir, sem saber quem é aquela pessoa. Eu, que curava minhas mágoas chorando em seus braços, e hoje sinto a dor da sua indiferença.

Até tento parecer não me importar, dizer que ‘tudo bem’. Mas doi, doi tanto! Doi saber que hoje, eu represento apenas cifras a menos na sua conta. Doi saber a imagem que você tem de mim. Eu que joguei o meu orgulho no alto para tentar ficar bem com você. Que se pudesse ter apenas um desejo realizado, pediria para que a gente pudesse ter a relação boa que um dia nós tivemos.

Você está perdido em meio a sentimentos ruins. Eu queria te ajudar, mas...
Eu grito, você não me escuta.
Eu te estendo a mão, você puxa a sua.
Eu tento aparecer, e você fecha os olhos.

Posso ser boba, mas ainda assim não consigo ter raiva. Porque eu sei que quando você reaparecer, eu vou te abraçar deixando minhas feridas de lado, só para curar as suas. Mesmo sabendo que corro o risco de me machucar ainda mais.

É uma pena que você não possa olhar dentro de mim e ver que as mágoas que eu carrego não chegam aos pés da minha saudade. Não do você de hoje, mas daquele que cantava repetidamente: ‘vivo por ela, ninguém duvida, porque ela é tudo na minha vida’.
São pessoas distintas.

O que a vida fez com você? O que você está fazendo com você?


Eu nunca quis que fosse assim.

sexta-feira, 11 de junho de 2010


Era o fim da linha.

Ela sabia que o mínimo passo acabaria com tudo. Tristezas, angústias, desespero. Tudo se esvairia com apenas um mínimo movimento de seus pés. Ela estava no limite entre a vida e a morte.
Já havia repassado diversas vezes aquela possibilidade em sua cabeça. Fora ali com uma decisão em mente. Mas ao chegar, sentia-se covarde diante daquela imensidão. Seus problemas não eram tão grandes quanto aquele penhasco, mas eram suficientemente grandes para fazê-la chegar até ali. Se pudesse escolher viver naquele lugar imenso, calmo, longe da realidade para sempre, ela escolheria. Mas não havia essa opção.
Só lhe restavam duas escolhas: viver sua infelicidade ou arriscar mexer seu pé. Ela não sabia o que lhe aguardava. Nem em Deus ela acreditava mais. Não tinha mais esperanças. Apenas uma interrogação em sua frente e uma certeza em suas costas.

Não, ela estava cansada, não poderia suportar mais.
Viu os pássaros ao longe. Ela gostaria de ser como eles, batendo suas asas rumo ao infinito.

Bateu uma brisa.
Fechou os olhos.
Um passo a frente.

Sim, ela também podia voar.

sábado, 5 de junho de 2010




Eu já jurei que não ia mais derramar lágrimas por homem nenhum. Que não ia mais ficar triste porque levei um bolo. Que não ia mais me incomodar com ciúmes. Que não ia colocar mais homem nenhum num pedestal. Que não seria capacho de mais ninguém. Que não ia aguentar um desaforo calada para não brigar. Que da próxima eu ia te ligar e falar tudo. Que não ia mais dormir com raiva.
Eu já jurei que eu não ficaria mais no computador escrevendo minhas melancolias e ouvindo uma música triste enquanto provavelmente você se diverte por aí, sem nem se lembrar da minha existência.

Eu já jurei, e quebrei minhas promessas todas as vezes, quando o homem em questão é você. Todas as vezes em que você me desarma com sua voz doce, e uma boa explicação.

Eu queria poder cumprir tudo o que eu já jurei pra mim, mas as juras que eu fiz pra ti parecem sempre calá-las.
Eu te amo, odiando-me.