sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Eu precisava partir. Por mais que eles não entendessem, e pedissem para que eu ficasse, eu sabia que a minha felicidade ali não passaria daquele estágio. Eu queria alçar novos voos. Eu sabia que no instante que eu ultrapassasse aquela fronteira uma nova vida me esperava. E eu não tinha ideia de como ela seria. A incerteza que me atormentava há meses, agora estava a um passo de distância. Bastava esticar o pé para tocá-la.
Eu sabia exatamente o que queria, mas ao me deparar com as consequências atrás de mim, fraquejei. Eu deixaria mágoas onde eu nunca quis deixar, isso seria inevitável, e egoísta. Deixar pra trás todo aquele amor, todo aquele conforto só porque eu não suportava mais ter que seguir regras? Era arriscar tanto. Ao mesmo tempo, viver eternamente frustrada não me faria bem, assim como as brigas provenientes disso não os faria bem.
Eu tentei explicar que não seria uma separação definitiva, estaríamos sempre nos encontrando. A diferença é que agora eu determinaria as minhas regras, seria uma mulher livre. Mas eles não entenderam. Isso me doía, porque eu sei que eles faziam o melhor para que eu fosse feliz, e eu não conseguia ser. Além daquela linha imaginária, no entanto, eu me encontraria. Havia vida me esperando. Ele poderia ser simples ou tortuosa, dependeria exclusivamente de mim.

Até o último instante eles estavam ao meu lado, tentando me convencer de que eu não precisava fazer aquilo. E embora me doesse, eu sabia que tinha de ser assim. Beijei-os no rosto, olhei intensamente aqueles olhos marejados. Eu sabia que aquela não seria a última vez, no final das contas eles entenderiam, mas doía como se fosse.

Atravessei.

Um mundo novo me encarava, e eu finalmente me sentia em casa.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010



Eu nunca fui muito de deixar me levar pela opinião dos outros. As pessoas sempre pareceram estar muito satisfeitas em semear a discórdia, em plantar aquela sementinha de desconfiança. Mas agora a situação estava diferente. Havia alguma coisa errada. Jonh nunca fora de dar muitas explicações, e ultimamente era o que ele mais fazia. Por um lado isso até pode se bom, mas não para mim, que estava acostumada com aquele seu jeito rude de poucas palavras. Soavam mais verdadeiras. Nos últimos tempos, me dava justificativas até para o que eu não perguntava. Sem sombra de dúvidas, aquele não era o meu namorado.
Como eu não conseguia responder a todas as dúvidas que me surgiam a cada vez que uma chuva de informações me inundava, fui obrigada a recorrer a algumas amigas. De início elas estranharam, eu nunca chegava para pedir conselhos. Eu sempre fora muito bem resolvida. Mas ao escutar o problema elas logo vestiram aquela fantasia de super conselheiras e desataram a me dar possíveis motivos. Traição foi o mais ressaltado. Mais uma vez, me arrependi de ter falado com elas. Nunca saía nada de bom, era sempre a coisa mais trágica. E, haha, nunca que o Jonh me trairia. Ele podia ter todos os defeitos do mundo, mas traição era a última coisa que eu podia esperar. Ao modo dele, não me faltava carinho. E sinceramente, virar um tagarela não era sinal de que tinha outra mulher na jogada. Trágicas, era o que minhas amigas eram.
Apesar de ter decidido esquecer aqueles conselhos, sempre que o Jonh recomeçava seu monólogo, eles brilhavam na minha frente. Passava mais tempo pensando neles, do que realmente prestando atenção na conversa. "Será que eu deveria armar um flagra? Investigá-lo? E se não fosse nada, com que cara eu ia ficar?"
Deixei a desconfiança de lado. Ele já começara a perceber o quão dispersa eu andava. Estava até melhor assim, o diálogo passara a fluir.
Nosso aniversário de namoro estava perto, estávamos super empolgados com a data. Nos encontraríamos depois da aula, para passar o dia juntos. No dia, eu estava sem clima pra aula, então resolvi fazer uma surpresa. Ia fica no quarto dele esperando-o chegar. Por coincidência, subi no elevador com a mãe dele. Falei dos meus planos, ela nem se importou, fazia muito gosto no nosso namoro. Entramos. Fui direto para o quarto dele. Estranhei a porta fechada, abri.

Choque.

Eu podia ver com meus próprios olhos tudo o que pra mim não passava de conspiração. Aqueles corpos nus, os olhares assustados, a pressa para se vestir, explicações vãs. Eu não tinha nada para ouvir, nem daquele idiota, nem daquela... KATE?! Não bastasse meu namorado me trair, tinha que ser com a minha amiga? Eu não podia suportar, segurei uma lágrima que insistia em descer. Ele não merecia. Ela não merecia. Destruí o presente na sua frente, joguei a aliança em cima daquela cama nojenta, consegui dizer apenas um "Suma da minha vida", e fui embora.
Desnorteada pelo caminho, eu só conseguia rever aquela cena. Eu nunca os perdoaria. Cheguei ao meu quarto. Chorei tudo o que eu tinha segurado naquela hora. Passei alguns dias com uma tristeza infinita. Mas as lágrimas levaram consigo boa parte da minha dor. Então eu percebi que a lembrança nem me machucava mais. Eu podia ver vida além dele. Não sei explicar de onde veio toda essa força, eu não podia dizer que tudo que eu passei com ele foi tempo perdido, houve momentos felizes. E ele decidiu acabar com isso. Então dane-se, agora eu me enxergava. Eu era grande, forte, inteligente, bonita. Muito mais do que o Jonh merecia. E ele, que pensou que estava me passando para trás me fez um favor enorme.

domingo, 17 de janeiro de 2010




Era um reencontro. Não havia motivo para tanta ansiedade, nem para todas aquelas noites sem dormir, mas quem controla isso? O fato é que ele dissera que estava com saudades, e isso era algo no mínimo inesperado. Depois de tantos desentendimentos, novas mulheres e tempo passado, uma simples menção de "saudade" soava como contradição. Estranho ou não, isso a alegrava. Ela, que nunca tinha conseguido esquecê-lo, que sonhou tantas vezes com a sua volta, sentia-se em êxtase com aquela mudança. Podia ser apenas um 'olá, como vai?', tinha consciência disto, ele não lhe dera esperanças de nada; de qualquer forma, seu coração se descontrolava a cada vez que ela pensava em encontrá-lo outra vez.
Enfim chegou o dia. Após desistir de suas vãs tentativas de dormir, ela levantou e foi ver algumas fotos. Elas estavam ali ainda, transbordando sentimentos, com declarações no verso. Tudo parecia exatamente como na primeira vez: a dúvida, a vontade. As mágoas já tinham se esvaído quando ela se convenceu de que não era possível deixá-lo para trás como ele a havia deixado, ou pelo menos, parecia ter deixado. Estava claro ali que nem tudo fora jogado fora, a falta era o primeiro sinal de que algo sobrevivera.
As horas se arrastavam, ela já estava pronta há séculos, sempre retocando alguma coisa que julgava fora do lugar. “7 horas”, ele tinha dito. O que custava chegar 5 minutos mais cedo? Impaciência.
Enfim, 7:00: Onde ele estaria?
7:05: Ele esquecera?
7:10: Ele nunca foi pontual mesmo...
7:15: Ele não vem.

7:18: A campainha!

Correu, respirou fundo, se recompôs. Ao abrir a porta, ali estava ele: Lindo, com um sorriso no rosto e flores nas mãos. Era como um déjà vu. O tempo não havia passado, eles se olhavam intensamente. Havia desejo, carência, e amor. O amor que nunca deveria ter sido adormecido. Agora ele despertava, avassalador como era. Ele entrou, nada disse, colocou as flores num vaso, ainda sabia onde ficava tudo por ali.
Não havia o que dizer, palavras só quebrariam a magia daquele momento. Como num filme, ele se aproximou. Seus lábios estavam a centímetros de distância. "Me perdoe, eu te amo!"

Ela não precisava escutar mais nada, beijou-o com a certeza de que finalmente aqueles tempos sombrios haviam chegado ao fim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ali estava ela. O corpo em um lugar qualquer, um coração despedaçado. "Cansei" foi a última palavra que ela escutou. Milhares de questionamentos a inundavam. Como ele pudera ser tão seco, tão breve? Como ele podia causar toda aquela destruição com apenas uma palavra? Como ela não viu que tudo estava desmoronando? Não havia respostas. Ele se fora. E ela continuou ali, naquela praça, sem conseguir se mover. Palavras desconexas giravam em sua cabeça, lágrimas caiam imperdoavelmente, e ela repassava tudo procurando entender. Não podia ser, não depois de tanto tempo, devia ser um brincadeira. "Claro", ela riu, "só pode". Uma brincadeira de mau gosto, uma brincadeira dolorosa, uma brincadeira tão real... Ele não voltaria. Era a solidão mais uma vez, para ela quem nem sabia mais o que era viver sozinha. Teria que reaprender tudo, e ela não tinha idéia de como conseguir; não sem ele. Deitou, e pensou em dormir. Quem sabe aquilo tudo não era um sonho? Ou melhor, um pesadelo? As palavras dele ainda rodavam, quando ela abriu os olhos. Olhou em volta, ouviu o silêncio, sentiu o vazio. Ele podia ter levado seu coração, mas o seu cheiro ainda pairava no ar.